quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Homenagem à Machado


Caríssimos. Me desculpem pela demora demais de uma semana sem colocar nada aqui. É que ocorreu-me um fato inusitado, que me retirou o tempo, me ocupou o tempo de uma maneira que nunca havia acontecido comigo. Li um livro de Machado de Assis. Na verdade não li, devorei, devorei o livro durante essa semana que passou. Foi por isso que não escrevi. O livro me consumiu de tal forma que, nas horas em que eu não trabalhei, não consegui fazer outra coisa que não ler Memórias de Brás Cubas.
As coisas começaram pela televisão. RJTV e a Leilane Neubart, aquela ruivinha que deseja, sempre com simpatia, uma noite de paz. Disseram no programa que neste ano está se comemorando 100 anos da morte de Machado de Assis. No começo fiquei meio estrebulada, comemorar a morte de alguém? A mulher começou a falar, com aquele sorriso no rosto: Machado de Assis morreu... , me espantei, ... à 100 anos - aí comecei a prestar atenção.
Fiquei vendo a matéria e entendi que se tratava de uma homenagem ao sujeito, ao sujeito que eu não conhecia e não sabia ser considerado o maior de todos. Nessa hora senti uma dor diferente, uma agulhada bem no alto da barriga. Eu nunca li nada desse homem, eu, que agora quero ser blogueira nunca li Machado de Assis.
Saí de frente da TV decidida a mudar essa realidade. “Dona moça, a senhora tem algum livro do Machado de Assis aqui?” - “Ah Maria, eu não sei. Pergunta pros meninos”.
Quem tinha era o garoto, me emprestou, com elogios, o Memórias. “Recomendo esse, é o mais legal”.
Daí não consegui mais parar de ler. Foi, como eu disse, uma leitura contínua e deliciada durante essa semana que passou. O livro me impressionou pelo seu motivo principal: quem escreve é um morto. De primeira tive dificuldades para entender aquela história de autor defunto e de defunto autor. Imaginei assim: o moço escreveu seu livro e morreu em seguida, deixando suas memórias. Matutei um pouco e saquei qual era a do negócio. Defunto autor foi o sujeito que morreu primeiro e depois virou escritor. Isso é realmente muito interessante porque faz com que o escritor fale sobre suas lembranças de uma maneira diferente. Tipo assim ó: Ele não deve mais nada a ninguém, já está morto mesmo, pode dizer o que quiser.
Tentei comparar o sujeito a mim por conta disso. Ele pode abrir a boca à vontade, falar mal, criticar enquanto eu, que também desejo ser reveladora, acabo não podendo revelar minha identidade. Olha que curioso. É a diferença que estar morto faz.
Mas tem uma coisa que me deixou ainda mais perplecsa. O fato do sujeito ter uma memória tão boa. Me comparo a ele novamente. Eu também falo de lembranças, de recordações, mas comigo não tem quase nenhuma dificuldade. O fato ocorre e dali ao dia seguinte eu já estou escrevendo sobre ele. Fica fácil né?! Pois, é fico pensando como é que o sujeito consegue se lembrar assim, tão bem, de sua vida inteira. E não é quando está velho, não. É depois que já morreu. Este tal de Brás Cubas deve ter comido muito Peixe quando era vivo. Peixe faz bem pra memória, é pena que nessa casa aqui o pessoal não tenha o costume de comer peixe. O povo vai ficar todo desmemoriado quando envelhecer.
Ih, estou aqui comentando, analisando, e só agora me toquei de uma coisa. Como foi que o Brás Cubas escreveu o livro se ele já estava morto?! Agora fiquei endoidecida... deixa eu olhar aqui o livro pra ver se tem alguma indicação... hum, deixa eu ver.... ah ta aqui: escrito por Machado de Assis. Eita mas como eu sou burra, eu já sabia que o livro era do Machado de Assis. A história é do Brás Cubas, mas quem escreveu foi o Machado de Assis. Estão vendo? Não é a toa que o homem era chamado de Bruxo do Cosme velho, fazia até morto escrever livro, devia ser um tipo de feitiçaria pra isso acontecer.
Ou então Machado de Assis era algum tipo de trans...trans... psico...psico....putz, esqueci. Bem, ou então o Machado de Assis era algum tipo de Chico Xavier! Sei lá, Vai saber né!

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